Jerusalem’s Lot: a história da cidade fictícia de Stephen King e seus vampiros
- Michele
- 7 de jun. de 2019
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Jerusalem’s Lot é uma cidade fictícia situada no Maine que aparece em diversas obras de Stephen King. As principais são: Jerusalem’s Lot, conto publicado pela primeira vez em 1978 na coletânea Sombras da Noite, que narra o início de todos os eventos na cidade; Salem’s Lot (A Hora do Vampiro), romance de 1975; e A Saideira, conto também publicado em Sombras da Noite, considerado a parte final sobre a cidade e seus temíveis segredos.
História
A cidade foi fundada em 1710 por um grupo dissidente da fé puritana liderado por James Boon, porém suas práticas eram de natureza ocultista. Em 1765, Jerusalem's Lot tornou-se um município adjunto a Preacher’s Corners.
Nas proximidades, os irmãos Robert e Philip Boone construíram a casa chamada Chapelwaite, em 1782. Ambos eram descendentes de Boon, mas não sabiam disso.
Em 1789, Philip Boone obteve um livro chamado De Vermis Mysteriis e, pouco tempo depois, toda a população da cidade desapareceu, junto com Boone e o ancião Boon. O local permaneceu inabitado até 1896.

Jerusalem's Lot nas obras de Stephen King
Jerusalem’s Lot (1978)
É um conto epistolar (em forma de cartas e trechos de diário) que se passa em 1850 e mostra as correspondências de Charles Boone, sobrinho-neto de Robert Boone, que se muda para Chapelwaite com seu criado Calvin McCann.
Desde os primeiros momentos, a dupla se vê rodeada por sons estranhos na velha casa, os quais julgam ser vindos de ratos. A mansão, herança de um primo falecido de Boone, é temida pelos habitantes locais, que a chamam de "amaldiçoada" e hostilizam os novos moradores.
Em uma expedição pelos arredores da região, Boone e Calvin chegam à cidade fantasma de Jerusalem’s Lot, onde encontram o antigo grimório De Vermis Mysteriis.
“Fechei o livro e olhei para as palavras impressas no couro: De Vermis Mysteriis. Meu latim está enferrujado, mas aproveitável o suficiente para traduzir: Os Mistérios do Verme.”
“— Que relações tinha Philip Boone com Jerusalem’s Lot? — Relações de sangue — ela disse, num tom sombrio. — A Marca da Besta estava nele, embora caminhasse com as roupas do Cordeiro. E na noite de 31 de outubro de 1789, Philip Boone desapareceu… e com ele a população inteira daquele maldito povoado.”

“Deum vobiscum magna vermis…” “Gyyagin vardar Yogsoggoth! Verminis! Gyyagin! Gyyagin! Gyyagin!” “— Gyyagin vardar! — gritei. — Servo de Yogsoggoth, o Sem Nome! O Verme Além do Espaço! Comedor de estrelas! Aquele que Cega o Tempo! Verminis! É a chegada da Hora da Complitude, o Momento de Dilacerar! Verminis! Alyah! Alyah! Gyyagin!”
Ao final do conto, em 1971, é mencionado um novo morador em Chapelwaite: James Robert Boone, último descendente de James Boon.
O De Vermis Mysteriis é um grimório fictício que apareceu pela primeira vez no conto The Shambler from the Stars, de Robert Bloch, publicado em 1935. Escrito em latim, permite a invocação de horrores inimagináveis. Está presente em diversas obras de diferentes autores, como August Derleth e H. P. Lovecraft.
Yogsoggoth é provavelmente uma variação de Yog-Sothoth, deidade criada por Lovecraft. Pertence ao grupo dos Deuses Exteriores e é considerado progenitor de Cthulhu.
A Hora do Vampiro / Salem’s Lot (1975)
“— Pai, conceda-me seus favores. Senhor das Moscas, conceda-me seus favores. Eu lhe trago carne pútrida e malcheirosa. Ofereço esse sacrifício por seus favores e trago com a mão esquerda. Dê-me um sinal neste terreno, consagrado em seu nome. Espero um sinal para iniciar sua obra. (...) Não se ouviu mais nada, fora o som da brisa. O vulto permaneceu silencioso e pensativo por um instante. Depois se inclinou e se ergueu com uma criança em seus braços. — Trouxe-lhe isto. E o indizível se fez.”
Este é o segundo romance publicado por Stephen King, e o autor já declarou ser uma de suas obras favoritas.
Em 1975, Ben Mears, escritor que passou a infância em Jerusalem’s Lot, retorna à cidade anos depois para escrever um livro sobre a infame Mansão Marsten. Nela, seu antigo proprietário, Hubbie Marsten, se suicidou enforcado após matar a esposa em 1939.
“HUBERT BARCLAY MARSTEN 6 de outubro de 1889 12 de agosto de 1939 O anjo da Morte empunhando a brônzea Lâmpada além dos portões dourados levou-o a turvas Águas Que Deus o conserve lá”
A mansão é comprada por Kurt Barlow, um negociante europeu que mantém um antiquário com seu sócio sombrio, Richard Straker. A chegada dos três forasteiros coincide com estranhos eventos, como o desaparecimento de uma criança e uma misteriosa doença em seu irmão.
Logo, a cidade mergulha em um caos silencioso: Salem’s Lot é tomada por vampiros. Ben Mears se une a alguns moradores, especialmente ao garoto Mark Petrie, para enfrentar o mal.
É um livro magistralmente escrito, que teve três adaptações. A narrativa foca mais na história recente da cidade, destruída por um incêndio nos anos 1950, mais um evento em sua trajetória bizarra.
A Saideira / One For The Road (1978)
A história se passa dois anos após A Hora do Vampiro e é narrada por Booth. Durante uma nevasca, ele está no bar de Tookey, na cidade de Falmouth, quando um forasteiro exausto entra pedindo ajuda para resgatar a esposa e a filha, presas num carro perto das ruínas de Jerusalem’s Lot.
Booth e o dono do bar hesitam, mas decidem ajudar. O resto é história.
“Tirei o crucifixo de dentro da minha camisa e o mostrei a ele. Nasci e fui criado como evangélico, mas a maioria das pessoas que vivem perto de Lot usam alguma coisa — crucifixo, medalha de São Cristóvão, rosário, alguma coisa. Porque há dois anos, no espaço de um sombrio mês de outubro, Lot se tornou má.”
O conto é breve e autoexplicativo, sem exigir a leitura prévia do romance. É a penúltima história de Sombras da Noite (Jerusalem’s Lot é a primeira).
Outras obras em que Jerusalem’s Lot é mencionada:
O Iluminado (1977)
A Zona Morta (1979)
O Corpo (1982)
O Cemitério (1983)
O Apanhador de Sonhos (2001)
Doutor Sono (2013)
Revival (2014)
A Torre Negra (três últimos livros)
Adaptações

Os Vampiros de Salem/Salem’s Lot (1979): Primeira adaptação em forma de minissérie, transmitida pela CBS, dirigida por Tobe Hooper (O Massacre da Serra Elétrica) com roteiro de Paul Monash. Fiel ao livro, apesar da exclusão de alguns personagens. O visual do vampiro mestre remete diretamente ao clássico Nosferatu (1922).
Os Vampiros de Salem: O Retorno/A Return to Salem's Lot (1987): Continuação direta do filme anterior. Co-escrita e dirigida por Larry Cohen (A Coisa, Nasce um Monstro), a trama gira em torno de um antropólogo relutante e seu filho. O filme é fraco, com atuações ruins e situações constrangedoras — como vampiros explicando por que não temem espelhos ou alho.
A Mansão Marsten/Salem’s Lot (2004): Segunda adaptação do romance. Rob Lowe interpreta Ben Mears, com direção de Mikael Salomon e roteiro de Peter Filardi. É relativamente fiel ao livro, com algumas adições positivas, como a melhor representação de Kurt Barlow e mais profundidade nas relações entre personagens. Donald Sutherland se destaca como Straker. A interpretação de Mark Petrie por Dan Byrd também se sobressai.
Apesar do charme oitentista da versão de 1979, A Mansão Marsten me agradou mais.
Fontes
Wikipedia: Jerusalem's Lot (Stephen King)
Lovecraft Fandom: Yog-Sothoth
The King of Castle Rock: Jerusalem's Lot: The Dark History